Fram Paulo - Comunicador Popular CDDH-AC/ASA
Senador Pompeu(CE)
19/04/2014
“Os caretinhas
Cantam a cidadania
Cantam a cultura do povo
Seja noite, ou seja dia.
Canta o direito
Do povo do meu sertão
De ter terra e trabalho
Dignidade e educação.
Canta o respeito
A natureza do sertão
Toda planta e animal
Que de Deus é criação”.
(Trecho da música dos Caretinhas - Composição: Fram Paulo)

As prendas adquiridas durante as jornadas pelos povoados, distritos e cidades, são colocadas no circulo dos caretas, onde ao centro o Judas é amarrado em uma estaca.
Um grupo de caretas portando chiqueiradores protegem as prendas, enquanto outro grupo adentra ao círculo para pegá-las e são chicoteados. Ao final todos os caretas se juntam, malham e queimam o Judas.
Essa é uma tradição antiga na comunidade, com mais de 70 anos de existência.
CARETINHAS - A TRADIÇÃO QUE SE RENOVA
Todos os anos as crianças da comunidade de Engenheiro José Lopes, imitavam os caretas. Vestidos em sacos e com máscaras de papelão, com chicotes na mão, saíam pelas casas da vila e dos povoados, pedindo prendas, agindo da mesma forma dos caretas adultos.
As crianças da comunidade de Engenheiro José Lopes, absorveram a tradição e foram além, criaram a Festa de Caretinhas. Recriaram, reinventaram e democratizaram os caretas.
O grupo de Caretinhas é democrático, todos podem participar, não importando a cor ou classe social, principalmente a questão de gênero, pois até então as mulheres não participavam da tradição de caretas. Nos Caretinhas as meninas participam, agora tem as Caretinhas.
Eis o verdadeiro sentido da tradição que se renova, se adequar aos elementos culturais contemporâneos, sem perder a essência da tradição.
Para Erick Vandick, Caretinha de 08 anos, brincante desde os 04, os Caretinhas valorizam a cultura da comunidade e abriu espaço para as meninas participarem, que antes não podia. Uma das meninas Caretinha, Sabrina Gonçalves, 12 anos, destaca a importância das pessoas valorizarem e respeitarem a tradição de Caretinhas que faz parte da cultura da comunidade. “A gente brinca de Caretinhas de coração, porque a gente gosta, é uma alegria para todas as crianças”, diz Sabrina.
Eis o verdadeiro sentido de manter viva a tradição, proporcionar o prazer, a alegria, o sentimento de pertencer a uma comunidade, o fortalecimento da identidade cultural do povo do Semiárido.
Segundo o humorista Carlos Oliveira, 53 anos, esse tipo de iniciativa é muito importante para a valorização da cultura da comunidade. “Principalmente quando envolve as crianças, pois as crianças fazendo é a garantia de que a tradição vai continuar”, disse Carlos Oliveira.
Outro aspecto importante é que além da preservação do patrimônio imaterial tem a preservação do patrimônio material, pois a concentração do grupo acontece na antiga estação ferroviária da comunidade, que se encontra preservada pelas ações dos jovens da Cia. Engenheiros da Arte e do Instituto Casarão com o apoio de pessoas físicas e entidades.
O artista e advogado Valdecy Alves, apoiador do evento, parabenizou a equipe de produção do evento, “que não só está mantendo vivo o folclore, como preservando a velha estação ferroviária que muito tem a ver com a existência e com a identidade da comunidade local”. Enfatiza ainda que “não há forma melhor de combater a violência do que envolver-se com cultura, não há forma melhor que enfrentar as drogas que ter políticas públicas culturais. Os Caretinhas são um exemplo de militância cultural autônoma”, destacou Valdecy Alves.
A Festa de Caretinhas mobiliza toda a comunidade, envolve crianças, jovens e adultos. Esse ano aconteceu uma feirinha com comidas típicas e artesanato, estimulando a economia solidária.
As crianças fizeram o cortejo de Caretinhas com uma energia lúdica imensa, que contagiou todas as pessoas, provocando uma interação tal, que só a cultura pode proporcionar à comunidade.
Foi um momento de encontros, pois reuniu moradores da sede do distrito e das comunidades vizinhas, parentes das crianças e os que apreciam. Também as pessoas que já não moram mais no distrito aproveitam o feriado da Semana Santa para visitar a terra natal, filmar e fotografar a tradição que sempre esteve em suas memórias.
A Festa de Caretinhas 2014, contou com o apoio do Centro de Defesa dos Direitos Humanos Antônio Conselheiro, da produtora de vídeo Uzina Produções e dos advogados Valdecy Alves e Aprígio Silva. A organização ficou por conta da Cia. Engenheiros da Arte e Instituto Casarão de Cultura e Cidadania
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